O retorno de quem não foi.

 

Depois de considerável tempo, eis que uma estreia me fez pausar tudo o que fazia. Não só para lê-la, mas para fazer uma análise. Digo “análise” por não querer usar o termo “crítica” que costuma, normalmente, dar a entender o desejo de “achar erros”, mas isto é uma tarefa um tanto orquestrada nas obras de meu saudoso Édy Dutra.

“Terra da Garoa”, sua nova novela, me despertou tremendo interesse, assim como me ansiou a sentar minhas nádegas na cadeira, abrir o Word e, a cima de tudo, contar o que me passou pela cabeça.

 

Confira a sinopse da novela:

 

São Paulo. A locomotiva do Brasil. Pluralidade no seu mais puro e singelo significado. É nesta terra de múltiplas facetas que Raquel (Juliana Alves) leva sua vida de auxiliar de cheff de cozinha num badalado restaurante na Avenida Paulista. Graças a uma bolsa de estudos em gastronomia, ela parte para Portugal, deixando aqui suas melhores amigas Jaqueline (Daniele Suzuki) e Lenara (Christine Fernandes). Enquanto isso, no interior do Estado, a família Queirós decide expandir seus conhecimentos no cultivo da oliva, para a produção de azeite na empresa da família, um grande império. Gurgel (Reginaldo Farias) escolhe o filho mais novo, Henrique (Guilherme Winter) para ir à Portugal estudar novos conceitos agrícolas, deixando Humberto (Júlio Rocha), o primogênito, cada vez mais invejado do irmão.

Em Portugal, Raquel conhece Joaquim (Diogo Cristo), que se apaixona perdidamente por ela, mas o coração da moça é tomado pela paixão por Henrique. Amor à primeira vista. Porém, Henrique precisa voltar urgentemente pro Brasil e desencontros acabam separando de vez o casal.

 

A história de Édy Dutra teria / terá / tem tudo para dar certo, mas como há alguns fatores que podem ser discutidos, não farei a afirmação neste momento, meus caros. Vejamos:

 

Gostaria de destacar a diferença da sinopse de “Terra da Garoa” para “Passos da Paixão”. A sinopse de Terra desenrola vários núcleos de uma vez só, com o sincero objetivo de revelar, de vez, a história principal e suas ramificações. Mas eu a deixei de lado e preferi ler o capítulo de estreia para tirar conclusões.

 

Quando comecei a ler o capítulo, parei. Olhei para o banner principal e, como todos, li “Terra da Garoa”. Esperava uma cena inicial impactante, que nos lançasse, de primeira lida, a definição de que a “locomotiva” do Brasil, SP, estaria em pauta, assim como as histórias que se desenrolam a cada dia em tal cidade. Acredito que uma novela tenha, como principal objetivo, prender o leitor por seus tantos capítulos, e para isso chama o leitor em TODAS as suas características: na arte, na logo, em seu nome, divulgação, etc.

Continuei a ler. Trata-se de uma fazenda, possivelmente no interior de São Paulo.

 

Li a primeira cena. Muito bem feita. – Gente, vamos cair na real, é Édy Dutra: a primeira cena, acho eu, poderia ter sido uma narração (?), uma construção de cenas mostrando o motivo de ser São Paulo (pois é a primeira história de Édy desenvolvida na cidade), enfim, várias possibilidades de clareza para com a obra/leitor; mas não deixou de apresentar o personagem principal, assim como o anti sujeito, adjuvante, seu objeto valor, coisas que (assim como a “falha” que ressaltei) tocam e despertam o leitor: “Ei! Você está lendo uma novela. Aqui está o personagem que não morrerá nem tão cedo!”. Temos que parabenizar Édy, primeiramente, por ter construído diálogos fortes, essenciais, digamos... Base da trama, o que se anda em escassez no mundo (que daqui a pouco entra em extinção – pela qualidade) virtual.

 

Continuei. Veio a tão esperada cena: São Paulo, meus caros! Mas não passou de um rápido take, nada muito grande.

Gostaria de deixar claro que é uma observação pessoal, de construção do contexto (ligado, diretamente, ao leitor), e por isso não afirmo: "Édy pecou, e muito, tirando todas as fichas que havia apostado em Terra!" - de jeito algum, pois as próximas cenas viriam.

 

Como imaginava, o restante das cenas foi perfeito. Tudo MUITO bem amarrado. Sincronia (cenas interligadas próximas), tempo (não foi curto, nem longo), enfim, todos os detalhes ficaram muito bem feitos.

 

Gostaria de destacar, apenas, a protagonista como “encaixada”. A personagem de Juliana Alves surgiu e eu, que não havia me dedicado a sinopse, fiquei confuso quando apareceu, até que percebi que era ela, a mulher que muitos acompanharão durante a novela. Para melhor entendimento neste sentido, acredito que Édy poderia ter apresentado a protagonista primeiro, encaixando as ramificações da mesma ao longo da trama, mas isso não quer dizer que tal coisa tenha sido uma “tática” do autor para mostrar que uma simples personagem pode virar a protagonista – sim, isso me convenceu.

 

Gostaria de lembrar que Édy não cometeu erros quanto à intercalação de takes panorâmicos com o restante das cenas (o que havia acontecido em Passos da Paixão).

 

Erros da língua só achei um. Na frase: "Quer dizer que você vai ir então?". No restante do texto, a gramática se encontrou em perfeito estado, o que deveria ser normal para todas as obras, mas não é.

 

Você deve estar se perguntando: por que tantos pontos negativos?

Seria enfadonho, pois existem muitos pontos positivos. Um exemplo são os já citados diálogos. Não são cansativos, pesados, aqueles “que carregam a cena”, e isso faz da novela algo agradável, faz das 25/30 páginas, passageiro e simples, portanto, Édy, resolvi ressaltar os pontos negativos e comentar, apenas, os que vi e os que achei diferente – coloquemos assim.

 

Para não dizer... O desfecho do primeiro capítulo me deixou na ponta do precipício, e confesso que fui para o 2º capítulo, ainda sem ler a sinopse, pois a achei extensa. Ah... como é bom descobrir os personagens através dos capítulos e, Édy, não foi necessário os “contar” na sinopse, pois você os passa, incrivelmente bem, naturalmente, pelos diálogos.

 

Por fim, gostaria de parabenizar ao autor e deixar pra você, amador, lendo esta crítica: anote esta obra no caderno de “exemplos”! 

 

Fui.